As mulheres que estão escrevendo a história do serviço do vinho em nosso país
Por Suzana Barelli *
Nem faz tanto tempo assim: em 1997, quando chegou ao Brasil, a sommelière italiana Anna Rita Zanier logo se tornou umas das mulheres pioneiras em trabalhar com o serviço do vinho por aqui (a também pioneira nesta época é a carioca Deise Novakoski, no Rio de Janeiro). Formada na Associazione Italiana de Sommelier (AIS), Anna Rita veio, com mais quatro italianos da região de Friuli, para trabalhar na Expand. Na época já uma grande importadora de vinho, a empresa foi procurar profissionais italianos para crescer mais no mercado brasileiro, por não encontrar estas pessoas por aqui. Anna Rita ficou poucos meses na Expand, depois foi trabalhar com o chef Sergio Arno, nos restaurantes La Vecchia Cucina e, depois, no Alimentari. Voltou para a Expand no ano de 2000, onde ficou por 16 anos, ministrando inúmeros cursos de vinho e de serviço da bebida e formando uma legião de apreciadores da bebida, homens e mulheres. Hoje, ela se divide entre a importadora Anima Vinum Brasil, o seu bar de vinho, o Vinum Est e projetos de consultoria.
Se chegasse ao Brasil agora, Anna Rita não se surpreenderia, como se surpreendeu, com a ausência de mulheres no mundo do vinho. Muito pelo contrário. Pouco mais de duas décadas se passaram, mas a presença feminina cresceu muito em todos os segmentos do vinho. As mulheres conquistaram importante espaço no salão – todo o serviço de vinho do D.O.M., o restaurante brasileiro mais premiado internacionalmente, é liderado por uma mulher, a sommelière Gabriela Monteleone. No Tambouille, clássica casa italiana, as linhas mestras do vinho são dadas por Gabriele Frizon e o serviço é realizado por Danielle Forte. Juliana Carani harmoniza os vinhos no italiano Ristorantino, para citar apenas alguns poucos exemplos.
As mulheres também empreendem no mundo do vinho. Outra Gabriela, agora a Bigarelli, investiu em uma lacuna do setor e colhe os bons frutos: ela montou uma empresa para coordenar não apenas a compra de vinhos pelos restaurantes (não raro um dos gargalos para o restaurateur), como todo o treinamento de equipes e a montagem das cartas de bebida. Entre seus vários clientes está o conceituado Maní, da chef Heleza Rizzo. E ela ainda encontrou tempo para abrir seu próprio restaurante, o Terço Restobar.
Eliana Araújo, outro exemplo, é sócia da loja Wine Soul. A dupla Cassia Campos e Daniela Bravin aposta no modelo de um pequeno e descolado bar de vinhos, o Sede 261. Jéssica Marinzeck, por sua vez, montou não apenas uma empresa para prospectar e importar vinhos, como uma loja para vendê-los em um importante shopping de São Paulo. Outras estão cuidando da importação de vinhos de grandes supermercados, como Jô Barros, no Angeloni, rede de lojas em Santa Catarina e Paraná. E Stephani Vaz viaja o mundo a procura de bons rótulos para o e-commerce Evino.
A abertura do mercado não quer dizer que não haja mais preconceito ou barreiras, veladas ou não, ao trabalho da mulher. Muitas relatam que há homens que ainda querem ser atendidos por um homem no momento de escolher um vinho para o jantar. Há restaurantes que nem aceitam currículos de mulheres para o serviço no salão, quanto mais do vinho. Também são pouquíssimas as enólogas com posição de destaque nas vinícolas brasileiras. Uma delas é Eloiza Teixeira, que após trabalhar na Quinta do Seival, assumiu a enologia do projeto Terranova, da Miolo, no Nordeste.
Mas, ao acompanhar o mercado brasileiro desde a chegada de Anna Rita, percebe-se uma importante conquista feminina. São mulheres que procuram o seu espaço, não para tirar o trabalho do homem, mas porque são funções que devem ser conquistadas por competência e não ser atrapalhadas por questões de gênero.
Hoje em dia, a lista de mulheres no mundo do vinho é muito maior do que as profissionais citadas ao longo desta reportagem. No link a seguir, há histórias, perfis e entrevistas de outras mulheres que brilham no mundo do vinho.
* Texto adaptado da versão escrita originalmente para o site das revistas Menu e IstoÉ Dinheiro, durante todo o mês de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher.