

O sobreiro, árvore da família do carvalho, é o símbolo nacional de Portugal, maior produtor mundial de cortiça, respondendo por mais de 50% da produção total. Nas regiões do Ribatejo e Alentejo, onde faz calor, há pouca umidade e os solos são bem secos, ficam os chamados “montados”, nome dado a uma floresta formada por muitos sobreiros, além de eucaliptos, pinheiros e gado.
O primeiro descortiçamento ocorre quando a árvore tem 25 anos de idade (ou 70 cm de perímetro), mas é somente na terceira extração, quando o sobreiro atinge cerca de 43 anos (o sobreiro pode atingir entre 200 e 250 anos de idade), que a cortiça adquire a espessura ideal para a produção de rolhas naturais, o nível mais alto da categoria. A rolha natural é tirada diretamente de pranchas de cortiça muito bem selecionadas e chegam a custar até 2 euros a unidade (as mais simples custam em torno de 2 centavos de euro). Naturalmente, são usadas nos grandes vinhos de guarda.
As rolhas técnicas são feitas com aglomerados de cortiça muito densos e podem ter discos de cortiça natural em uma ou nas duas extremidades. As de champanhe e espumantes, com diâmetro maior, fazem parte das rolhas técnicas, porque precisam ter maior granulação, e trazem de dois a três discos de cortiça na parte inferior.
As rolhas capsuladas são feitas com cortiça natural, coladas a uma cápsula de madeira, metal ou vidro. São usadas para vinhos do Porto e alguns destilados.
A extração da cortiça ocorre nos meses de junho e julho, no verão. O trabalho é feito sempre em duplas, e essa atividade é a mais bem remunerada no setor rural do país (entre 80 a 100 euros por dia).
É preciso um intervalo de nove anos entre uma extração e outra para que o sobreiro se regenere completamente. Na árvore, é marcado um número que indica o ano em que foi retirada a cortiça (no caso, o 7 indica que a extração aconteceu em 2017).
Uma imensidão de cortiças no pátio da Amorim, maior produtora mundial
Depois de retiradas do sobreiro, as placas de cortiça passam por um logo processo, que pode durar mais de um ano, e que inclui a cozedura em água natural que vai deixar as placas planas e dar elasticidade às peças. Mas o trabalho até chegar ao produto final é longo e envolve muita gente, de trabalhos em laboratórios aos funcionários das fábricas.
As indústrias de cortiça têm investido bastante no controle do TCA, doença da rolha ou bouchonné (bouchon é rolha em francês), palavra que descreve os aromas de mofo e de pano molhado, um dos mais temidos defeitos do vinho.
Há um ditado português que diz que a cortiça é como o porco: tudo pode ser aproveitado. Apenas 30% pode ser utilizado para a produção de rolhas (que corresponde a mais de 65% do valor dessa indústria). O restante é usado para piso, decoração, isolamento, indústria de calçados e de automóveis. Até o pó da cortiça pode ser queimado para gerar energia. Na Amorim, maior produtora mundial de cortiça, mais da metade da energia usada vem da queima da cortiça.
Texto e fotos: Solange Souza, editora do site Mesa Completa, que viajou a Portugal a convite da Apcor – Associação Portuguesa da Cortiça, em junho de 2017.